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Saturday

Rascunho nº5

Constelações incompletas fazem o céu apagar
As nuvens trémulas das viagens perdidas
Tentei seguir-te até ao outro lado do tempo
Mas por entre dúvidas e a porta do celeiro
Aberta, hesitante, longa, doce
As fileiras de soldados, abatidos por dó
Os corpos mutilados, entrelaçados para sempre
E o mundo que continua a rodar, na sua implacável beleza
Conversas de pátio, lembranças furtadas, saliva
Não posso continuar, tenho de seguir a razão
Carregar o ocaso até ao seu estado primário
Atingir o nível a que me submeti
Acreditar no bem maior do ser
A lista telefónica, agora rasurada
Dá lugar ás inevitáveis perguntas
Para as quais não há respostas
Não fosse a óbvia mentira
Teria sido belo

Thursday

...E das ruínas da cidade, surgem anjos feridos

Sento-me ao teu lado no chão irregular
Ignorando as palavras que tardam em chegar
És o fantasma possível de um mundo virtual
Fixas a colina que desfaz o horizonte linear
Observas a criança que balouça no ramo frágil
A árvore milenar
O sol cega-me a alma por instantes
E naquele momento desejava poder respirar o vento
Absorver as flores que teimam em crescer no alcatrão
Que tudo tende em desaparecer eventualmente
A não ser que abras os braços em direcção ao céu
E sejas o milagre impossível de anos de espera
Por momentos temo que desapareças de vez
Mas a sensação não dura mais que um pestanejar
E é tão bom poderes acreditar no que vês
A honestidade imperceptível do momento
Dissolve a realidade aparente
E finalmente consegues entender
Como é fácil voar sem que asas te nasçam
Ladeada por momentos que te tornam no que és
Amanhã de manhã já cá não estarei para deixa nascer
Urgência num dia intemporal
Dás-me um papel amarrotado que ambos sabemos o que é
Interrompemos a rotina para que possamos sonhar
Acreditas, ages para sempre, deixas viver
Montanhas que ruem ao som de suspiros
Amantes que conspiram o próximo beijo na utopia certa
De que o dia seguinte será só mais uma etapa fugaz
O caminho para o mundo perfeito, a incógnita constante, a palma da tua mão

Wednesday

Moinhos movidos pelo som eterno da fuga

Fechado por breves instantes no quarto
A tua face vincada pela beleza eficaz
O espelho não se cansa de reflectir a imagem
De algo que tu nunca serás
A imperfeição mais perfeita
A troca
Por momentos esqueci-me de mim
Só o teu hálito existia
E o sorriso treinado
Por infindáveis anos de procura
Embriagado pela tua energia
Deixei-me levar ao fim
Implodi para sempre naquele momento
E o abraço final serviu de consolação
A beleza esconde-se em planos improváveis
Agora já do lado de fora da porta do quarto
Resta-me esquecer a morada
Inventar artificios imersos
E reviver o beijo imaginário