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Monday

Uma questão de princípios

Olhei para dentro, e tentei repirar, afastar o peso do tempo, que me tornou numa farsa sem fim nem começo. Percebo agora que a vontade é escrava dos dias que restam para que a paixão acabe, e que o coração começa a bater mais devagar à medida que o instantâneo perfeito se vai esbatendo, os contornos, indefinidos, do que outrora foi o ínicio, revelam um paralelismo invulgar com a condição primária do ser, e do aceitar de que para que possamos ser abençoados com o começo, temos de antemão aceitar o fim inevitável. No entanto, continuamos a preferir a cegueira voluntária, o sonho, ou até a rotina, e aí permanecemos indefinitivamente no casulo fechado, no estado intermédio, entre a origem e a plenitude, aguardando a chegada de um deus que não existe, em frente a uma televisão de cristal.
O meu desejo... esse... é que amanhã possa ser eu.

Sunday

Bus 911

Uma viagem de autocarro, as pessoas adormecidas, planeiam a fuga para lugar nenhum.
A brevidade da viagem, o emprego miserável, a casa para pagar, e o sonho de um amanhã excepcional. A paisagem imóvel corroi a cegueira permanente dos nossos destinos, para que possamos acreditar que ainda controlamos o futuro.
Muitos dirão no fim da viagem que tudo não passou de uma etapa superada rumo a libertação, mas as marcas das correntes nos pulsos e no peito contam uma história diferente, a da auto-escravidão por um ideal estranho, do grito abafado por uma mão amiga, e viveremos felizes para sempre retidos na alfândega da mente, anestesiados neste pseudo-país, neste corpo findável de desejos perdidos.