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Saturday

Sal?

Fixo a janela semi aberta e pergunto-me
Quantas pessoas terão deixado esta casa?
Quantos lagrimas, sorrisos e despedidas terão presenciado estas paredes?
Nuas como no ínicio
Quase como quando a vi pela primeira vez
E na hora do adeus recorro á nostalgia como comprimido
Deixei de ter medo das coisas que não posso controlar
Talvez...Nem sei
É fim da tarde como no principio
A luz incide no chão do corredor
As palmeiras agitam-se ao sabor do vento
O sacristão fala sozinho enquanto fecha a igreja
Mas falta uma parte de mim que não sou eu
...Levanto-me da cadeira
...Fecho a porta
...Para nunca mais voltar

Adão e Eva

Fotografia N. Cava. Todos os direitos reservados.
(Adão e Eva)

Improviso solitário de uma cegonha a colidir com o tempo

O mel transborda do mosaico enquadrado
O reflexo da luz na mesa de apoio
A necessidade de sentir o presente interminável
De obter as respostas, desconhecer as questões
Sinto-me vago
Uma nuvem prestes a acontecer
O paredão em ruínas do meu passado exemplar
Respiro um suspiro prestes a colidir
Esqueço os momentos que me prendem ao ínicio
E sinto-me uno com o imenso amor do meu potêncial
Sei quem tu és, mas não me conheço
Desejo-te a luz que nunca te pude oferecer
Sonho imenso, ainda que inacabado
Pertence as paredes dos templos dos nossos antepassados
Não existem fronteiras para esta semelhança
E o teatro improvisado arde ao sabor das cinzas
...O vento é meu aliado
Vórtice, paradigma, distância
Agradecimentos, desculpas e adeus

Wednesday

A árvore rachada no cimo da colina - (Protótipo de um poema)

A erva queimada, o sol penetra o chão
O calor imenso do momento acabado
Enquanto o vento canta a sua canção
A curiosidade paira, monta o cavalo alado

Entras na porta, atravessas o risco pintado na entrada
Foges por caminhos que julgavas extintos
E sentes a tua consciência pura para sempre amarrrada
Abre os olhos e encontra a saída destes infindáveis labirintos

Rasga o poema, a corda solta
Inventa uma rima, e outra, e outra
Não desistas do tempo que tenho para te dar
E no fim de contas, é a nossa sina sonhar

Vivemos o nosso inverno noutra estação
Entre montes de erva daninha e pudor
Enganámos amigos, demolimos a prisão
Queimamos caixas de fósforos, protegendo o amor

E afinal marquei o meu nome em todas as folhas
Caídas no chão molhado pelos suspiros ternos e lágrimas perdidas
Desisti da poesia, das rimas e de toda uma realidade
Para me descobrir nas ondas que matam as sereias de prata

Um homem partiu ao som das sirenas, tornou-se criança e jamais voltou

Tuesday

Atrasado

A glória concentrada num pedaço de céu
O equívoco urgente do meu esquecimento
Há sempre um desejo, uma história recente
Para que tudo possa fazer sentido
Acorda a noite está prestes a chegar
E com ela a fábula nómada, o beijo fugaz
Eu sou aquele que te afaga a mão
Que vive em silêncio para te provocar
Por onde andarão os anos dourados?
Em que nada sabia e governava o mundo
Desejo o suor da tua dôr, como o copo de água em queda
A cascata congelada, o gelo manchado
E limitamo-nos a ser a farsa
A viver, morrer e matar por ela
No fim dos dias o que restará de nós?
A sombra tardia?
O esquecimento global?
Ou a cerimónia respeitável?
Precisamos de viver sôfregamente
Extrair o sumo da nossa essência
Porque nem sempre o fim é um novo começo
E por fim possuir a nossa consciência

Sunday

6:29

Estou perto do fim
A rua estreita reflecte o que resta de mim
O medo das decisões anónimas
Da noite dourada
Dos estranhos que vivem em mim
Da familia que me fechou a porta de casa
Vou ter de mergulhar, e arriscar a queda
Vou ter de viver plenamente
O amor sabe melhor pela manhã
Nunca pensei que fosse assim
Prefiro ser considerado um louco
Que viver confinado num espaço que não é meu
Demasiado pessoal
Decidi contar a toda a gente
Exprimi os meus desenhos na tua cara de cera
Saltando de pedra em pedra sem chão onde me apoiar
Iludi o padre na igreja
Lancei dados partidos sem esperança de ganhar
Ultimei os preparativos para que a cerimónia se pudesse realizar
Suspira por mim, pois já nada resta
A não ser a sombra perdida de alguém que já nada pode dar
O verão sempre foi a estação em que eu sempre desejei parar

Wednesday

Barbie

Duradoura vénia ao palhaço da corte
A raiz do medo dos homens
A alface apodrece no frigorifico
E todo aquele dinheiro gasto no vício
Só para poder ganhar o ídolo dourado
A vitória pessoal da derrota dos outros
O síndrome do consumismo
O sonho da vida entrelaçada
A chamada telefónica interrompeu o jantar familiar
O silêncio quebrado por aquela voz
E de repente tudo se torna perfeito
Não é o som, nem tão pouco o choro da criança
Parece ser a luz, que passa por esta janela
Que me alivia o corpo e me envolve na sua timidez
Desligo o telefone, já nada mais importa
Volto para a mesa, não sem antes contemplar a paisagem mais uns instantes
Fecho os olhos e volto as costas a luz
...O choro parou

Monday

Outra vez...

Dualidades, o paradigma imenso
Não compreendo o porquê de fazer aquilo que não me agrada
De livre vontade
Consciência pesada
O amor bateu na janela num doce toque
E nada voltou a ser o mesmo

Saturday

Medito de fronte ao rio, que afinal sou eu

Tudo é suave
Estou deitado nos braços de uma imensa multidão
E não caio
Flutuo
Posso mudar o mundo
Acredito
Em ti
Na multidão
No extâse rosa
Na hora tardia
No copo vazio

Friday

3D

Fácil como inspirar o ar rarefeito da minha cidade, ao toque final ela mentiu

Doce veneno, ruas de feltro e a predisposição para voar
Já faz tanto tempo que não te via, a tua imagem estratificada, a posição fetal
Ouve o momento, retira o teu dedo para que eu possa ir....
Nunca dizes a verdade 
Se ao menos pudesse sair do jogo, e viver a minha vida debaixo da terra
Agora não é possivel e eu compreendo que queiras sair mais cedo
Ao quinto toque da campainha, abri a porta e não vi ninguém, fechei a janela, plantei a semente e dei voltas a mesa antes do jantar
Sou tão feliz por esta existência ciclica, pelos padres que matam com a palavra uma religião imortal
Dogma?Dúvida?Divida?
Abre os olhos! 
Vê se há nuvens no céu que resistam ao nosso peso
E arranja finalmente coragem para chorar
O tempo esgotou-se
O combate terminou
Inicia a tua viagem e não olhes para trás
 

Thursday

Já fui inocente. Agora sou culpado

Não posso dizer que sim
Não posso dizer que não
Tenho a certeza que nada voltará a ser como dantes
Junta-te a mim e tornarei-te imortal
Luxuria escondida, verdade improvável
Sinto o calor do sol ampliado pelo vidro duplo na minha perna
Não posso pensar
Não posso agir
E já é noite cerrada, tenho a certeza que não me consegues ver
Se ao menos o teu cheiro fosse menos intenso, poderia fingir que não existias
Estou a ser vigiado pelos meus próprios olhos
E não consigo encontrar um lugar onde me esconder

Tuesday

A casa de campo

Tudo roda, tudo estagna no ponto que há-de vir.
Eles vão encontrar-nos! É uma questão de tempo. E depois o que será feito de nós?
Sinto a minha sanidade por um fio.
E a queda, a iminente queda na escuridão de um ponto.
Levantei-me da mesa sem pedir permissão e fui observar as estrelas para a varanda, os cães ladravam ao som do piano que se fazia ouvir de forma pouco constante, preenchiam os vazios causados pelo silêncio, que estranha melodia aquela, na atmosfera rural de uma casa isolada no campo.
E está quase a chegar, sinto o chão a fugir, o corpo e a mente a vacilar, tudo deixa de estar provido de significado, e sem que nada possa fazer, começo a cair. Não vejo nada, estou rodeado de um negro profundo, apenas sinto o vento na cara e o corpo a deslocar-se, não vejo o chão, tento olhar para cima, mas as estrelas também desapareceram.
Estou preso nesta queda constante.
Para sempre neste lugar.
Absoluto.

Sunday

2164 \/\/\/\/\/\/\/\/\/ 2164

O meu coração continua a bater, embora nada signifique. Estou preso entre o terno tédio e o profundo extâse branco. Será que me consegues ouvir? Certamente que não.
Bloqueios mentais constantes, divergências irreconciliáveis, os amigos que enterrei naquela tarde de inverno, e que jamais verei.
O meu amor mora na porta ao lado, é meu vizinho e fingi não o ver, mas hoje decidi tirar a venda que me cobriu os olhos durante tanto tempo, e a luz do sol cegou-me.
Passeios a beira rio, ainda falta muito tempo para te poder sentir, não há nada a fazer, é inutil resistir.
O bosque sagrado, o significado de uma mão, este calor sufocante, a imagem intermitente projectada na minha boca. Por quanto tempo faremos parte deste sonho de verão?
Dois corpos desintegram-se, á medida que o vento os espalha pela nocturna cidade, os amantes observam, luxuriante invasão de um som nunca antes escutado, eu acredito em ti, tanto como nas farsas burlescas de um teatro experimental.
Não há palavras.
Não há ausência.
Tudo se resume a um muro no meio do caminho, ao suor do corpo...
Hoje carreguei a arma, e por pouco não a disparei.
Tiro certeiro do outro lado da mancha, que por momentos pensei seres tu.
Estou tão feliz que tudo não passe da minha imaginação, á medida que o copo meio vazio faz a sua ultima viagem em direcção ao chão.
Está tudo iluminado.
Como é lindo esse sorriso.
É um prazer conhecer-te.
Como te chamas?
Já não me esqueço mais.
Verdades empacotadas em cima de um divã, para sempre esquecidas, ocasionalmente recortadas.

Saturday

Quando o cego vê e o surdo ouve, o mu(n)do tem que falar.

Fúrias distantes, intrépida oportunidade, o dia de amanhã foi sempre melhor.
Ecos distantes de uma paixão juvenil, num quadro perfeito onde não existe dôr.
Acaba o chávena de chá antes que seja verão, e os grifos nos pórticos sussurrem teu nome.
Hoje não me acredito nas verdades dos jornais, tenho o céu da boca em ferida e o sabor do sangue foi sempre melhor.
Quantos dias ainda tenho de esperar até ao pôr do sol?
Filosofia inacabada de uma pressão constante, espreito na porta onde me viste entrar, onde um é pouco, e dois são demais, e afinal o dom acabou por passar, e o que viste foi só uma efeito fugaz.
Dá-me so mais um minuto até acabar, e prometo-te um mundo que não te posso dar, o tempo é escasso, eu sei, está quase a terminar.
Vejo-te na festa? Ou será demasiado cedo para comemorar?
O cavalo negro, o castelo em ruínas e o bosque ardido foram só algumas das razões. Mas eu sempre acreditei que um dia fosse demais, e além de tudo que sempre existiu, há razões de sobra para que possa viver só mais um pouco na ténue dúvida que sou.
Arrasta o corpo, desimpede o caminho, pois agora é tarde para poder falar.

Thursday

O samurai azul

O samurai azul envelheceu com o tempo perdido de uma vida dedicada à morte, vagueou por aldeias e vilas, por montes e planicies, procurava um rival, um significado para a mente desgastada. Parou um momento para apreciar o som que o vento produzia numa oliveira, e ali ficou por dois dias à espera do verdadeiro significado, não do vento, nem sequer da oliveira, mas sim da globlalidade do esquecimento, das muitas guerras travadas, e da origem do céu.
No terceiro dia prosseguiu viagem, seguiu para norte. Olhou para o seu lado direito e avistou um abutre, e com a delicadeza apenas possivel aos da sua espécie, sacou da espada e cortou o pulso direito, estendendo o braço para o animal saciar a sua sede.
Continuando a sua demanda, parou a frente de um arbusto e pegou-lhe fogo, observou o espectáculo e retomou a caminhada.
No iniciu do sexto dia, depois de quase uma semana a caminhar, decidiu parar na berma da estrada, sentando-se numa pedra para o efeito, e foi com admiração que viu um homem sentado de forma quase simétrica a sua frente, estudou-o durante alguns minutos, viu nele o adversário que sempre procurara, sentiu que era ele o seu verdadeiro e único inimigo, numa fracção de segundo sacou e atirou a espada em direcção do peito do inimigo, o som que se verificou a seguir foi como o do vidro a partir em mil pedaços, o samurai levantou-se, atravessou a estrada até ao outro extremo, e observou meticulosamente os fragmentos do espelho partido, baixou-se, colheu sua espada com a mão esquerda e um pedaço de espelho com a outra, e com singela violência muda espetou o pequeno fragmento junto de seu coração.
Caíu subitamente no chão em chamas, banhado pelo sol do meio-dia.
Abram alas pois o samurai, morreu.

Tuesday

Roldanas acabadas de quebrar

Mas afinal onde estão os exércitos dourados prometidos?Onde fica a rua errante onde pobres vendem a alma em troco de um refrão?

Visitei a luz faz já algum tempo, mas não encontrei a porta que se tarda em abrir. Fingi acreditar na melodia errante que provinha do luar, e ao som do grito abafado chorei torrentes de lava que invadiram as ruas da cidade. Ao fim do dia não restava ninguém a não ser eu, as ruas desertas, e esperança vaga que tudo não passasse de uma lírica ilusão perdida.

Mas o fim não chegou. E como uma alma perdida procura uma fuga para um reino melhor, eu mergulhei no rio de água salgada, ou talvez fosse o mar.

E assim encontrei o fim. Não o da ilusão, ou até do dia, mas do meu próprio ser. 

Hoje

Hoje acordei ao som de uma musica na minha cabeça, uma canção sobre não estar aqui, de outros lugares paralelamente universais, da ausência do Eu, e do peso de algo aparentemente oculto, mas que ao mesmo tempo senti ser real.

Hoje experimentei a diferença, por momentos deixei de ser, e penetrei no desconhecido onde era os dois, Homem e Mulher, o som e o silêncio, o quadro e a fotografia, fui a totalidade e acabei por me anular.

Hoje rezei para que não houvessem religiões, para que o homem se liberte da escravatura dos padres e dos deuses, e para que renasça com o poder que criou, da fantasia eternamente fugaz ao esquecimento total em menos de um segundo.

Hoje foi o ultimo dia antes de amanhã.

Monday

"The Absence of a Wall"?

A cair sem ter uma parede onde me apoiar.
A parede que me falta é aquela que não é de cariz imaginário, se bem que é uma parede constante, um porto seguro e um obstáculo.
Tudo é limitativo.E muitas das vezes temos dilemas existênciais.Será melhor viver seguro e limitado? Ou então inseguro e livre?
Durante muito tempo vivi entre paredes. Fazia parte delas, de certa forma era eu mesmo uma parede, era o protótipo da segurança, inquebrável, até que um dia decidi abandonar esse lugar e de repente tudo deixou de ser cinzento, os dias eram maiores , com o sol como uma constante.
Vivi feliz , sonhei, e acima de tudo amei.
Até que um dia sem que eu me apercebesse que estava a viver um sonho, tudo acabou, o despertador tocou e eu acordei, exactamente no lugar onde tinha embarcado inicialmente ,os dias voltaram a ser cinzentos e mais curtos, tudo estava e era, como devia ser, com a excepcão da parede onde sempre vivi, aquela parede que era eu.
Todos dias me pergunto.
Será que fui eu que me perdi ou a parede que desapareceu?