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Monday

O grande circulo

O peso imóvel e perfeito
O coração... sarado
Olho para os papeis com palavras passadas, sem nexo, e à medida que me recosto no sofá e pressiono o botão, as imagens começam a desfilar no televisor como nenúfares estáticos e isolados, completamente sem sentido, e único, lembro-me que respiro para sempre.
Preciso de mim como era, como quero ser, não posso continuar a projectar o corpo em vão, tenho os dias contados num caderno qualquer, e uma vontade infindável de sentir.
As imagens continuam a passar sem piedade, como armas de guerras, nas quais nunca combati, a solidão voluntária faz-me pensar na importância da felicidade daqueles que morreram, e solto um sorriso honesto por eles, mas logo volto a mim, e a sala vazia, pálida e fria, à dualidade da existência, ao toque desvanecido daqueles que me tocaram, à insensatez breve do começo e do fim, e de tudo o resto que permanece entre esses dois pontos obrigatórios e imutáveis, que me irão conduzir finalmente a mim... Talvez... não sei, nunca viverei para ver o ocaso de tudo.
Sinto o meu corpo a vir à tona do lago, os meus olhos encharcados começam a enxergar, as árvores de um verde intenso e o azul acetinado do céu, e de repente, tudo se transforma, e eu sou a transformação, e consigo por fim sentir a beleza, no entanto, tudo está estranhamente imóvel, perfeito e... absoluto.